As formas teatrais, a partir do final do século XIX e início do século XX, conforme pontua Rodrigues (2001, p.219), começaram a modificar sua estrutura formal, aumentando as possibilidades de composição do material teatral, a partir de efeitos da chamada “crise” das formas absolutas do drama, em que a função do diálogo passou a ser questionada. Considerando essa nova possibilidade de se pensar/produzir o teatro, surge a figura do biógrafo-autor (SILVA JÚNIOR, 2010, p. 58) que transforma uma personalidade histórica e datada em um sujeito passível de ficcionalização. Esse trabalho visa compreender como Florbela Espanca, escritora portuguesa do começo do século XX, se transmutou em personagem da peça homônima de Hélia Correia (1991) e quais os elementos manipulados pela dramaturga para a criação dessa “Florbela” dramatizada. Ademais, não se quer debater a diferença do real e da ficção, nem a comparação do que é histórico ou criação literária, mas tratar as apropriações de alguém que teve a sua vida contada em vários suportes e que se transformou em personagem principal de uma peça de teatro.