O processo de adaptação fílmica baseada em narrativas tem se tornado um fenômeno recorrente da cultura moderna. Desde o surgimento do Cinema em 1895, inúmeros romances, peças, contos entre outros têm sido adaptadas para as telas. Porém, o termo “adaptação” é frequentemente utilizado e compreendido com base no senso comum ao defini-lo, simplesmente, como “conversão de um meio artístico para outro”. A crítica muitas vezes se limita a justificar a eventual “infidelidade”, “afastamento” ou “traição ao recurso original”, argumentando sempre a favor da dependência entre as duas formas de arte que aqui discutiremos: literatura e cinema. Nesse artigo pretendemos levantar uma breve discussão acerca da concepção de que a adaptação está, primeiramente, ligada a um conteúdo específico, onde o adaptador ou cineasta decide o que deve ser enfatizado no processo de adaptação da literatura para o cinema. Através de uma perspectiva comparada, pretendemos discutir a transposição de sentido do discurso gótico, baseando na ambientação do conto A Queda da Casa de Usher, do escritor americano Edgar Allan Poe e sua adaptação fílmica homônina de Roger Corman, de 1960. Pretendemos também analisar os diferentes efeitos de sentido produzidos através das relações dialógicas entre o texto literário e cinema e ainda discutir a influência da literatura gótica de Edgar Allan Poe e suas expressões e construções nas artes. Para fundamentar teoricamente este estudo recorremos principalmente à obras de Bakhtin (2002), Plaza (2008), Hutcheon (2006), Stam (2006), Cahir (2006) entre outros textos críticos e teóricos.