Entre suas inúmeras características, a crônica contém, como uma de suas marcas elementares, a presença marcante da ironia como fenômeno constituinte do enunciado do locutor. A ironia é utilizada quando não se pode ou não se consegue – ou pensa que não se pode – ou não se quer dizer explicitamente/seriamente o que se pensa ou o que se quer. Nesse sentido, o foco deste artigo voltar-se-á para a identificação de como se constrói a ironia na crônica – levando em consideração que, como fenômeno de linguagem, a percepção dessa se faz necessária para uma compreensão do sentido do discurso que estiver em questão. Pretendemos, também, verificar de que modo os significados mudam de sentido no campo do discurso irônico, e, ainda, estimular o trabalho com esse gênero, uma vez que, por meio desse gênero é possível perceber as mudanças de sentido irônico em textos utilizados e a serem produzidos em sala de aula. Para tanto, tomamos como corpus para análise a crônica de cunho político-social “O presidente tem razão”, do autor Luís Fernando Veríssimo - já reconhecido como cronista por produções neste âmbito, que articulam em assuntos de nível social, considerados polêmicos, o humor e a ironia. Nessa análise, portanto, observaremos a construção irônica através dos elementos linguísticos (lexicais e sintáticos) e discursivos integrantes dessa crônica. O presente artigo inclui uma revisão de literatura, basicamente, dos fundamentos teóricos como Lélia Duarte (2006), Marcuschi (2005), Massaud Moisés (1979), Muecke (1995) Orlando Pires (1981), entre outros, utilizados para o desenvolvimento e avanço dos estudos. Em seguida, deverá apresenta-se a análise da crônica e conclui-se com os resultados verificados durante o trabalho. Com efeito, é notório que compreender o contexto no qual a crônica está inserida, é um primeiro passo para identificar como se constrói a ironia neste gênero textual. Além do conhecimento partilhado com o leitor, Veríssimo constrói ironias utilizando também determinadas escolhas lexicais, analogias e jogos de sentido entre o literal e o subentendido, sendo, os mecanismos linguístico-discursivos encontrados mais frequentemente.