Neste estudo, realizamos uma análise do acesso de estudantes surdos à escola e das práticas de letramentos em uma sala de aula com surdos multilíngues, localizada em Várzea Queimada (PI). Nessa comunidade, os surdos utilizam três línguas: a Cena, língua de sinais nativa do povoado; a Libras, língua de sinais brasileira reconhecida legalmente; e a Língua Portuguesa na modalidade escrita. A questão norteadora deste trabalho foi: como se constitui o acesso à escola e quais práticas de letramentos ocorrem na sala de aula em que os surdos participaram? O objetivo foi investigar as práticas de letramentos, as interações sociais e o processo de aprendizagem dos surdos em sala de aula. Para isso, a pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira, realizamos uma análise bibliográfica de estudos sobre a comunidade, buscando em plataformas científicas, como o Portal de Teses e Dissertações da CAPES e revistas científicas/periódicos. Na segunda etapa, realizamos observações na escola, utilizando a etnografia como método de investigação, para compreender a dinâmica organizacional e institucional, com a colaboração do professor e dos alunos surdos. Quanto aos resultados, os trabalhos identificados mostraram que Várzea Queimada foi uma comunidade isolada durante décadas, o que contribuiu para o desenvolvimento da língua de sinais local, a Cena. O acesso à escola, que era escasso, foi ampliado, com os surdos adultos estudando na EJA em uma turma multisseriada. O contato com a Libras ocorreu por meio do trabalho de evangelização de instituições religiosas, sendo continuado através do acesso à internet e na escola. Observamos nas aulas que havia o ensino de Libras, Português e Matemática por meio de atividades impressas e práticas de diálogos. O estudo identificou, ainda, a pluralidade da comunidade surda brasileira e a necessidade de se pensar em políticas educacionais específicas para esse público.