As modificações corporais inerentes à puberdade, bem como a mais delicada das travessias, a adolescência: passagem da vida infantil para a vida adulta, impõe questões no campo das adolescências trans. “Eu sou um corpo errado”, nos diz uma adolescente trans acompanhada em um ambulatório público, Identidade – Ambulatório de Transdiversidade, localizado na cidade do Rio de Janeiro, no Hospital Universitário Pedro Ernesto. Esta adolescente, logo em seguida afirma que vive bem e feliz em seu corpo, contudo a sociedade o considera um “corpo errado” e, por isso, precisa fazer a transição, pois só assim poderá ser “passável” como mulher. A adolescência exacerba a dimensão do reconhecimento social. Adolescentes buscam sua “passibilidade” ao mesmo tempo que se identificam com figuras midiáticas cujas imagens são cirurgicamente construídas em busca de uma perfeição estética. Desta forma, o processo de afirmação de gênero na adolescência suscita dúvidas quanto ao que eles realmente desejam. A autodeterminação da identidade trans nessa população jovem nem sempre é validada devido às interseccionalidades. A escuta clínica de adolescentes trans, alinhada aos direitos dessa população, visando promoção do cuidado, traz para o debate as vivências desses adolescentes e ressalta a importância de um cuidado individualizado.