Reconhecer uma narrativa pressupõe, antes de tudo, que aquele que narra possa se expressar. Em um contexto repressivo, o colonialismo e o racismo, têm impedido e negado o ato de falar a pessoas negras através das relações de poder estabelecidas na sociedade. Com isso, seus saberes e fazeres tem sido deslegitimado, apropriado, entre outras coisas. Apesar do silenciamento sistemático, da invisibilização e, do epistemicídio, o trabalho feito por mulheres negras trancistas carregam, para além da memória histórica cultural do povo negro na diáspora africana, diferentes tecnologias que tem mantido a população negra viva diante da necropolítica vigente. No tocante a estes saberes, os salões de belezas onde as tranças são confeccionadas, se estruturam como quilombos, espaços seguros que possibilitam a superação e o enfrentamento ao racismo cotidiano e seus efeitos. A fim de reconhecer e compreender a respeito de tais narrativas, para além de negar as imagens de controle que aprisionam mulheres negras trancistas, como por exemplo, afirmar que trancista não é cabelereira, é preciso dar foco a sua intelectualidade suprimida pela teia de opressões sociais que as acometem. Dessa forma, como uma trança do projeto de tese em andamento, este trabalho propõe unir os fios do relato de experiência prévia como trancista as cenas observadas no campo, para analisar os conhecimentos desenvolvidos e preservados ao longo dos séculos por trancista na diáspora africana, como conjunto de conhecimentos válidos que compõe a epistemologia feminista negra.