A presente pesquisa teve como objetivo analisar o lugar da ficção na produção de conhecimento na teoria feminista queer. Para tal, analiso os usos que Donna Haraway faz da ficção científica em sua obra “Manifesto ciborgue” (1985/2009), para em seguida adentrar na proposta de Jack Halberstam a respeito dos potenciais presentes nas animações infantis em sua obra A Arte queer do fracasso (2011/2020). Os dois autores demonstram como as ficções são potenciais fontes de saberes para se imaginar novos mundos, e diferentes possibilidades de produzir existência. A partir de uma compreensão das estratégias utilizadas por estes dois autores para desafiar a matriz heterossexual que limita as possibilidades de perfomatividade de gênero e afetividade mediante seu disciplinamento, me inscrevo na tarefa queer de buscar uma saída para a realidade colonizadora que oprime a população dissidente do sistema cis-heterossexual. A mistura entre diferentes campos dos saberes, no caso, as práticas artísticas e reflexões teóricas, geram frutos promissores e incertos, conhecimentos que fogem do tradicional cânone acadêmico e possibilitam atingir uma maior quantidade de pessoas para além dos muros da universidade. Proponho que ambos os autores encontram um terreno fértil nestas mídias alternativas que conseguem condensar teorias abstratas em linguagens mais acessíveis, ou como sugere Halberstam, operam com uma “baixa teoria”, fornecendo ferramentas para uma produção de conhecimento que foge da tradicional formatação textual, com normas restritivas e palavras rebuscadas, a chamada “alta teoria”.