O presente trabalho trata-se de uma análise discursiva de imagens fotográficas da ação policial frente a resistência de uma casa de acolhimento LGBTQIAPN+. Os registros fotográficos foram realizados em 2020, no auge da pandemia de COVID-19, durante a desocupação efetivada pelo Estado de um prédio outrora abandonado no bairro de Copacabana (bairro turístico situado na zona sul da capital do Rio de Janeiro), posteriormente ocupado no ano de 2019 e, assim, transformado em uma casa de acolhimento LGBTQIAPN+, a saber, a Casa Nem. Como fundamento teórico-metodológico para a análise discursiva utilizou-se pressupostos foucaultianos; os conceitos “racismo de Estado” e “contraconduta”, baseados em Michel Foucault, balizaram a discussão apresentada. Contemplou-se que, por meio das imagens produzidas da ação policial nesse acontecimento, que o Estado mostra-se violento frente aos corpos dissidentes que não se permitem serem normalizados; buscando o higienismo social, percebeu-se que o Estado utilizou-se de toda o aparelhamento militar da polícia para a desocupação de um prédio que antes da ocupação apresentava-se sem funcionalidade comunitária, mas que transformou-se em instrumento de desmarginalização e de luta contra a precariedade que oprime a comunidade LGBTQIAPN+ há décadas. Dissidentes das normas sociais e estatais de gênero, das cristalizações jurídicas identitárias, da compulsoriedade biomédica pelo corpo binário e na busca pela aliança para formação de uma coletividade, compreende-se que a Casa Nem produziu (e produz) ações de contraconduta que resultam em novas e criativas formas de vida que desafiam o Estado neoliberal e o racismo estatal por ele produzido.