O presente trabalho mobiliza reflexões sobre o exercício clínico no campo psi e os direitos de pessoas trans ao acesso à saúde. Seu objetivo principal parte da necessidade de analisar o contexto atual brasileiro no atendimento psicológico à população trans. Para isso, foram utilizados referenciais éticos, técnicos e científicos, que partiram da epistemologia esquizoanalítica, método cartográfico e de documentos institucionais, como o Código de Ética Profissional do Psicólogo. Foi realizada uma revisão de literatura que permitiu compreender a complexidade das experiências trans e os desafios enfrentados ao procurar atendimento psicológico, constatando uma série de violências de gênero. Sendo o eixo principal de análise a não responsabilização de pessoas cis no atendimento ético às dissidências, são levantados questionamentos que abordam os desafios e potências dessa questão. Como nos encontramos com as diferenças? Por que pessoas trans são convocadas a ocupar um lugar de cuidado com seus semelhantes? Como a clínica pode promover cuidado em meio à dores e adoecimentos da cisheteronormatividade para pessoas trans? Ao pontuar a importância do espaço clínico ser um meio de legitimação de narrativas e afirmação da vida digna, os resultados preliminares indicam a necessidade de pensar a capacitação de qualquer profissional da Psicologia para fornecer um atendimento ético, sensível e adequado às demandas da comunidade trans. Portanto, a possibilidade de atendimento às suas especificidades não configura uma especialização, mas sim uma demanda necessária para toda a categoria se partimos de uma ética que reivindica uma escuta promotora de saúde mental e bem-estar.