A presente proposta de comunicação oral consiste nas minhas experiências adversas como uma mulher negra africana em espaços de educação formal, pois tive contato com duas realidades geográfica e culturalmente distintas e transversais, mas que compartilham muitos pontos em comum com base em pressuposto de que o colonialismo, atualizado pela colonialidade, é o denominador comum das múltiplas opressões e abandonos vivenciados por mulheres cisgêneras, especialmente negras, em ambos os contextos. Sou cabo-verdiana, minha experiência como mulher negra de classe social baixa, cruza-se com as categorias de classe, raça e gênero que me constituem. Essas experiências identitárias propiciaram a mim uma perspectiva singular sobre o campo da educação e suas experiências nele. A proposta, portanto, busca discutir a representação da mulher negra na produção de conhecimento que questiona os paradigmas científicos modernos marcados pela herança branca patriarcal colonial, apoiando-se no conceito de interseccionalidade como uma ferramenta teórica política assente na perspectiva da pesquisadora negra cisgênera estadunidense Kimberlé Crenshaw. O conceito e a importância dessa ferramenta para abordar os desafios e a resistência de grupos raciais no contexto da educação formal, e para entender como a modernidade organiza o mundo ontologicamente e o não lugar das mulheres que não enquadram no molde predominante. A troca será, portanto, baseada na experiência empírica e na pesquisa de campo sobre gênero, maternidade e configurações familiares no contexto cabo-verdiano de uma miragem epistemológica africana. A metodologia incluiu uma revisão de literatura com foco nos estudos sobre interseccionalidade e pesquisas decoloniais.