A série “Todxs Nós” foi a primeira produção audiovisual brasileira a contar com o protagonismo de uma personagem não-binária. A história narra a trajetória de Rafa, que foge do interior para viver com um primo e uma amiga em um apartamento na cidade de São Paulo. Compreendendo a mídia como um dispositivo pedagógico, como descreve Rosa Maria Fisher (2022), a presença de Rafa tensiona as normas do CIStema (NASCIMENTO, 2021) e estimula novas formas e possibilidades para gênero. Neste artigo, faz-se uma reflexão sobre o protagonismo de Rafa como um gesto simbólico dentro do campo midiático, marcado por disputas de espaços e visibilidades. Considerando conceitos como a política do sexo, elaborada por Gayle Rubin, a mídia articula-se como um importante aliado para a fixação dos valores cisheteronormativos e a presença de Rafa causa uma ruptura sobre essas normas. Ao compreender a importância de Rafa e toda a articulação que o seu corpo gera, é importante refletirmos sobre o final da temporada, na qual Rafa declara-se um homem trans sem haver uma complexidade desse desenvolvimento ao longo da trama. Esse fato causa reflexões em torno da não-binariedade como um gênero, mas um processo para a binariedade trans.