A historiografia sobre experiências lésbicas na América Latina tem sido altamente moldada por práticas arquivísticas que influenciam as fontes disponibilizadas aos historiadores. As narrativas marcadas pela dissidência sexual e pela não normatividade são um subproduto do que o arquivo oferece, mas também da capacidade dos historiadores de serem criativos com as suas fontes. O que há na história lésbica que é considerado difícil para sua produção? Ao examinar as possibilidades de uma história lésbica no Brasil do século XX, este trabalho procura fornecer uma visão geral dos fios narrativos que culminam no surgimento de uma identidade lésbica politizada no final da década de 1970, durante o período de redemocratização no Brasil, ligada ao surgimento de o movimento homossexual. Situando estes tópicos dentro de uma perspectiva latino-americana mais ampla sobre gênero e sexualidade, o meu objetivo é considerar as fontes dispersas sobre as relações entre mulheres e como os historiadores e historiadoras podem interagir com elas. Textos médicos, prontuários, processos judiciais, cartas e fontes jornalísticas são algumas fontes que podem ser úteis nessa tarefa. Se estas não permitem aos historiadores traçar uma identidade lésbica fixa que remonta ao início do século XX, pelo menos expõem os discursos que criaram dissidência e as mulheres que procuraram viver vidas satisfatórias para além da norma. Como podemos superar os limites que a pesquisa em arquivos impõe para reconstruir um passado lésbico que foi largamente relegado às margens da historiografia LGBTQ+?