O Brasil é um país marcado por inúmeras desigualdades. A concentração de renda, segunda maior do planeta conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano publicado pelo PNUD em 2019, é uma das evidências claras sobre as dificuldades enfrentadas pelas populações mais vulneráveis. Elementos estruturais, como o racismo e a misoginia, agravam sobremaneira as condições de vida das mulheres no país. O relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, publicado em 2021, estabeleceu que, apesar dos avanços legais dos últimos anos – especificamente, pode-se mencionar as leis n. 11.340/2006 e 13.104/2015 –, a violência contra mulheres na sociedade brasileira ainda apresenta altos índices e se destaca em relação aos demais países da América Latina. Na cidade do Rio de Janeiro, tais aspectos podem ser constatados ao observar-se a distribuição territorial das ocorrências policiais de crimes contra mulheres. É possível constatar que há territórios mais perigosos para mulheres do que outros – esses, em geral, possuem indicadores de desenvolvimento humano abaixo dos encontrados nos territórios cujos casos de violência se apresentam em menor quantidade. Pretende-se demonstrar a relação intrínseca entre violência contra mulheres, vulnerabilidade socioeconômica e território. Considera-se fundamental que o Estado, a partir de suas instituições, atente-se para a interseção entre tais dimensões na formulação de políticas públicas – ou seja, a territorialização da violência contra mulheres –, já que medidas universalistas não têm sido capazes de garantir a segurança de mulheres – sobretudo quando negras, pobres e moradoras de partes da cidade desfavorecidas social e economicamente.