Para criar um perfil em um aplicativo de relacionamento, a pessoa usuária deve inserir nome, idade e informar sua autoidentificação de gênero e orientação sexual. Dados esses que podem ser anonimizados nas informações do perfil e que figuram como recursos mandatórios para a construção da identidade algorítmica do usuário. Entretanto, esses formulários, usados como porta de entrada desses aplicativos, nem sempre estiveram lá. Criados inicialmente como alternativas para encontros majoritariamente heterossexuais, aplicativos de relacionamento foram constantemente ajustados a fim de que se transformassem em ambientes propícios para a participação do público LGBTQIA+, já que especialmente pessoas trans* eram frequentemente sinalizadas e banidas pelas plataformas. Em resposta a questionamentos sobre esses banimentos, ora as empresas admitiam que os aplicativos realmente não estavam preparados, ora afirmavam que estavam trabalhando para sanar quaisquer equívocos envolvendo pessoas transgênero. No âmbito das plataformas, pessoas trans* continuam sendo potencial alvo da combinação entre misoginia e transfobia, vítimas também da aplicação injusta ou descontextualizada de regras, termos de serviços e códigos de conduta. Este resumo é orientado por uma pesquisa de doutorado em andamento que parte da compreensão de que a materialidade de determinadas plataformas digitais incide não somente na exclusão de pessoas trans* mas na conformação performativa de gênero. Para isso, guiamo-nos pelo formulário de entrada de um dos aplicativos de relacionamento analisados na pesquisa, o Tinder. Expomos algumas das provocações que desencadearam a sua formatação e elaboramos algumas reflexões já orientadas a partir das análises iniciais.