A psicologia, assim como a medicina, colaborou para a patologização das identidades trans, porém nas últimas décadas tem se aliado aos movimentos que defendem a pauta da despatologização, por meio de seus posicionamentos institucionais e da atuação de seus profissionais. Inspirado por esses pressupostos, este estudo teórico-reflexivo tem como objetivo analisar os posicionamentos da psicologia, como ciência e profissão, face às demandas da população trans, e seus desdobramentos em publicações e diretrizes de ações definidas por entidades nacionais representativas da categoria profissional. Para tanto, o estudo esquadrinha os posicionamentos oficiais do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Em seguida, examina o movimento em direção à despatologização do chamado “processo transexualizador” do Sistema Único de Saúde (SUS) e analisa criticamente a psicoterapia e a avaliação psicológica como ferramentas que podem assumir tanto uma função patologizadora como despatologizadora, dependendo de como são compreendidas e apropriadas pelas/os psicólogas/os que atuam junto às pessoas trans. Conclui-se que há avanços na luta pela despatologização, encorajada pelas organizações científicas e profissionais, contudo, algumas/alguns psicólogas/os e o sistema público de saúde brasileiro ainda são influenciados por vieses que tendem a reproduzir a perspectiva patologizante projetada sobre as experiências trans, cristalizando estereótipos.