Nesta comunicação proponho pensar a escrita como lócus ocupado por vozes dissonantes da expectativa normativa do discurso acadêmico. Argumento que se, por um lado, a academia resiste às redefinições identitárias que já a constituem, por outro, há sinais evidentes de que sua resistência não é capaz de impedir a emergência de vozes, corpos, textos construídos para além da normatividade. Se, conceitual e tradicionalmente, o discurso acadêmico é imparcial e neutro – isto é, cisgênero, heterossexual e branco, a atenção empírica demonstra que essa prática discursiva é também outra, aquela que de forma assumidamente parcial desafia a suposta (e nada neutra) neutralidade. Valendo-me da noção de ethos discursivo, conforme apresentada pela Análise do Discurso de linha francesa, analiso a imagem de si construída discursivamente por autoras/es de dissertações e teses defendidas em programas de pós-graduação de universidades brasileiras. Os dados mostram que a autoetnografia e a pesquisa narrativa são terrenos metodológicos profícuos para a construção dos ethé discursivos em tela.