Resultado de pesquisa de mestrado, o presente artigo parte de um esforço inicial de investigação sobre a história cultural da identidade travesti no Brasil, com ênfase no período de redemocratização, em três momentos. Primeiro, destaco como travestis foram construídas – em um conjunto de “imagens e imaginários”, sob uma dimensão do “público” – como um “Outro” específico no interior da Ditadura Militar, através de uma análise de formas de violência e processos de desumanização. Segundo, nos modos como travestis foram construídas como um “Outro do Outro” no interior do próprio movimento homossexual brasileiro, no contexto da Constituinte de 87-88, enquanto “vítimas públicas e fardos privados”. Finalmente, sob uma perspectiva da História Pública, conectando passado, presente e futuro – a partir de uma conceituação da cisnormatividade em seus “cistemas” – enfatizo os modos como formas de representação e visibilidade apresentam uma manutenção de tais processos de Outrização. No que chamo de “olhares públicos”, abrem-se também brechas para a re/construção de tais imagens e imaginários nas aberturas promovidas pelas subjetividades travesti em seu agenciamento, reflexividade e criatividade.