O presente artigo tem como finalidade refletir acerca das imbricações da dinâmica consubstancial das relações patriarcais de sexo, de classe e de raça na particularidade brasileira presentes na vida e obra da cantora e compositora Dona Ivone Lara. A pesquisa bibliográfica exploratória de cunho qualitativo se fundamenta na perspectiva materialista de totalidade da vida social. Entendendo o trabalho como categoria fundante do ser humano genérico, compreendemos a sua centralidade na vida social, que na sociabilidade heteropatriarcal-racista-capitalista possui uma determinada funcionalidade à produção e reprodução do capital. Nesta sociabilidade a sistemática complexa e simultânea de segregações, subordinações e opressões de raça, classe e sexo, fornece os subsídios necessários para sua produção e reprodução alicerçada na exploração que se desenvolve através das divisões, social, racial e sexual do trabalho. Compreendendo tal sistemática, chegamos à conclusão de que as mulheres negras são assim os indivíduos mais afetados pelas determinações desse sistema consubstancial de opressões inerente ao capitalismo, que se aprofunda em contextos de territórios de capitalismo dependente. Deste modo, Dona Ivone Lara enquanto uma mulher negra pertencente à classe trabalhadora de um país marcado por relações coloniais, se tornou a primeira mulher cantora e compositora destaque no cenário musical do samba, cenário este profundamente marcado pelas relações patriarcais de sexo e suas imbricações de raça e classe, refletindo em sua trajetória de vida e obra expressões de particularidades dessa sociabilidade e de resistência.