Este trabalho refere-se a um relato de pesquisa científica desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará e defendida no presente ano de 2023. A pesquisa enveredou pela autobiografia, pelo patrimônio cultural negro e pela vida urbana afrodescendente na Rosalina, uma comunidade localizada na Secretaria Executiva Regional VIII da cidade de Fortaleza, Ceará. Segundo relatos dos moradores, a Comunidade Rosalina emergiu em 1992 e expandiu-se consideravelmente em 1996, impulsionada por um período de especulação imobiliária que viu uma centena de famílias estabelecendo-se simultaneamente. Este bairro negro é uma manifestação materializada das experiências afrodescendentes em um contexto geográfico específico, moldando as estruturas e resultando em um bairro distinto dos bairros onde a população eurodescendente supera numericamente os afrodescendentes. O principal objetivo deste trabalho é evidenciar os aspectos da autobiografia em pesquisas sobre bairros negros e populações negras, com intuito de expô-la como potencializadora das pesquisas afrodescendentes, explorando elementos da história e da cultura negra, as formas de vida e organização. Para atingir essa finalidade, empregou-se a metodologia afrodescendente de pesquisa, na qual o pesquisador, compartilhando da identidade afrodescendente, se imerge em seu próprio contexto de pesquisa, explorando questões relacionadas à sua própria cultura e história, que o moldam e que estão intrinsecamente ligadas à sua própria existência. Nesse contexto, o pesquisador investiga sua própria realidade e a comunidade onde reside. Como resultado dessa pesquisa, observa-se que as narrativas autobiográficas apresentam aspectos dos significados, enquanto que a autobiografia vai além, apresentando dimensões da memória, ideologia e desejos inconscientes. As narrativas autobiográficas como parte do método da afrodescendência de pesquisa é uma das possibilidades existentes de narrar um cotidiano diverso, inventivo, inédito e criativo. Essas são as dimensões das sociabilidades e das experiências da afrodescendência nas cidades brasileiras.