Este trabalho, surge no contexto da minha pesquisa (em andamento) sobre o lugar do corpo nas narrativas orais de vaqueiros, no contexto do Programa de outroado em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia , e tem como propósito analisar a potencialidade da utilização da obra Chapeuzinho de Couro (2013), de autoria do escritor fluminense Agostinho Ornellas, escritor e ilustrador descendente de nordestinos radicados no Rio de Janeiro, no letramento de crianças em idade escolar no contexto do sertão nordestino. A Obra em si, uma livre adaptação, do tradicional conto Chapeuzinho Vermelho, escrita originalmente pelos irmãos Grimm, traz como diferencial de outras inúmeras adaptações já feitas a localização da história no sertão nordestino e a substituição dos elementos da paisagem e dos personagens europeus tradicionais por nossas típicas figuras do sertão. Assim, floresta vira caatinga, Lobo, se transmuta em onça-pintada e o capuz vermelho se transforam nos típicos chapéu e gibão de couro da nossa tradicional vestimenta de vaqueiro. O encantamento se produz pela permanência do personagem central feminina, uma menina arretada com um nome o mais nordestino possível “Cícera”, que usa o chapéu e gibão também como “armadura” para proteção em meio à vegetação agreste da caatinga. Quando falamos do letramento de crianças que vivem no contexto do sertão-semiárido baiano, entretanto, percebemos que, diferentemente daquelas que vivem no eixo sul-sudeste do país, estas tem bem poucas oportunidades de terem contato com obras que criem um sentimento de identificação com os elementos simbólicos que configuram a sua identidade, uma identidade que se constitui também a partir da interação simbólica com o universo produzido e traduzido pela linguagem escrita, pela literatura. Por essa razão, acreditamos que a obra é muito significativa ao criar um sentimento de pertencimento das crianças que vivem em contextos semelhantes ao dos personagens ali retratados.