INTRODUÇÃO A educação brasileira está passando por um momento de mudança com a implementação do Novo Ensino Médio (NEM). É possível tecer uma série de críticas ao modo como essa mudança está acontecendo, mas este não será o principal objetivo deste trabalho, será mencionado porque atingem direta ou indiretamente aqueles que são nossos interlocutores, os jovens estudantes. Uma das principais promessas do NEM é um maior incentivo ao protagonismo juvenil e o auxílio para que os estudantes construam seu Projeto de Vida. Para que isto aconteça se faz necessário que a escola compreenda o estudante como um jovem, embora pareça óbvio, no cotidiano este é um grande desafio. Compreender as juventudes com todas suas particularidades e deixando de lado a ideia do aluno como ser uniforme, que inclusive usa um uniforme que o torna igual, que não permite expor minimamente seus gostos, preferências e identidades. Este trabalho circunscreve duas áreas da Sociologia: Sociologia das Juventudes e Sociologia da Educação. Como os estudantes entendem a juventude? O que é ser jovem para eles? Nas aulas de Sociologia o tema é abordado, mas como ele chega até o jovem? É válido ressaltar que a pesquisa ainda está em curso, portanto faremos a opção de não citarmos os nomes das escolas onde a pesquisa está sendo desenvolvida. Para fins de comparação escolhemos duas escolas que aqui serão identificadas como Escola Capital e Escola Interior. A Escola Capital (EC) fica localizada em um bairro da periferia de Fortaleza, no Ceará, o bairro tem 42.894 habitantes (IPECE, 2012) , o IDH é X 0,361/ 0,359. É uma escola regular, são 26 turmas divididas nos três turnos, somando aproximadamente 1040 estudantes. A Escola Interior (EI), localizada em um município do interior do Ceará, cujo IDH é de 0,6 e tem cerca de 7.758 habitantes. A referida escola é uma escola regular e funciona em três turnos, manhã e tarde as turmas regulares 1°, 2° e 3° série e a noite a turma de EJA. Vale salientar que funciona o NEM para as turmas de 1° e 2° séries, nas duas escolas. METODOLOGIA Para a coleta de dados realizamos grupos focais que nos permite fazermos algumas reflexões interessantes sobre o que os estudantes compreendem acerca da juventude. Posteriormente iremos aplicar questionários com alguns estudantes a fim de ampliarmos as possibilidades de comparação e fazermos assim uma abordagem combinando técnicas qualitativa e quantitativa. Os estudantes que participaram dos grupos focais foram escolhidos mediante sorteio, todos os estudantes são alunos do terceiro ano. A princípio definimos as turmas, o critério foi a turma que ministramos a disciplina de Cidadania, essa disciplina faz parte da carga-horária do Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT). Já havíamos trabalhado durante as aulas a temática Juventudes, conversando sobre as discussões durante as aulas surgiu o interesse por explorarmos um pouco mais a temática e principalmente as construções que são feitas pelos estudantes a partir do despertar da imaginação sociológica, como define Wright Mills (1969). Definimos as questões que seriam feitas e a quantidade de estudantes, cinco em cada grupo focal. O grupo foi realizado na escola, no turno no qual eles estão matriculados. Na EC foram sorteadas cinco estudantes, quatro delas com 17 anos e uma com 18 anos. Na EI o grupo ficou mais heterogêneo 3 meninos e 2 meninas, sendo dois meninos com 17 anos, um com 18 anos e as meninas uma com 16 anos e outra com 17 anos. Os estudantes dos dois grupos foram bem breves nas respostas, mas conseguimos a partir destes pensarmos melhor o questionário que pretendemos aplicar. Suponhamos que o fato de sermos professoras e estarmos fazendo perguntas sobre um tema que trabalhamos em sala de aula tenha sido interpretado por eles como algo com teor avaliativo, embora antes de começarmos tenhamos explicado que ali teríamos uma “conversa sobre juventudes”. REFERENCIAL TEÓRICO A juventude é uma fase da vida marcada por inúmeras situações desafiadoras e oportunidades que mudam de acordo com o contexto sociocultural em que os jovens estão inseridos. De acordo com o sociólogo brasileiro Juarez Dayrell, a juventude pode ser entendida como um processo social em que os jovens estão buscando uma identidade própria, que é construída a partir das relações com os seus pares e com a comunidade em que vivem (DAYRELL, 2011). Isso fica claro quando analisamos os grupos focais, uma das estudantes do grupo focal da EC, por exemplo, falou que não conseguia definir o que era juventude, que era algo que se vivia e fez uma referência não verbal fazendo menção a ser algo vivido coletivamente. Ao passo que na EI os alunos falam da juventude como algo de transição e momento de escolhas, muitas vezes difíceis, ressaltando as confusões sobre que decisões devem tomar. Dayrell (2007) analisa a escola como espaço de socialização, isso é notado quando questionamos sobre a participação em grupos dentro e fora da escola, os que participam de grupos são grupos que se reúnem no espaço escolar, mesmo que não sejam grupos formais, por exemplo, as meninas da EC narram que ficam após as aulas na escola todos os dias, para jogar bola, conversar, estudar, fazer trabalhos, segundo elas é o momento para aproveitarem os colegas. Enquanto que os meninos da EI afirmam que ficam conversando com os colegas em seu tempo livre dentro da escola, se socializando, trocando ideias e que esses grupinhos por eles assim chamados, perpassam os muros da escola, levando uma interação social fora do ambiente escolar. A socióloga brasileira Maria Helena Souza Patto também destaca a necessidade de se levar em conta a cultura e a subjetividade para compreendermos a juventude, argumentando que a experiência juvenil é permeada por elementos simbólicos e emocionais que influenciam no processo de construção de identidades e trajetórias de vida (PATTO, 2014). Além disso, a juventude também pode ser uma fase marcada por diferentes desigualdades, sejam elas sociais e/ou econômicas que afetam diretamente o acesso a oportunidades e recursos. O sociólogo brasileiro José de Souza Martins discute que a pobreza e a exclusão social muitas das vezes podem ser fatores que dificultam a inserção dos jovens no mercado de trabalho e na vida política, gerando assim, consequências negativas para a sua formação e para seu desenvolvimento como um todo (MARTINS, 2006). Quando questionamos os estudantes sobre como eles veem a sociedade atual, uma das meninas da EC ressalta que as desigualdades sociais não deveriam existir e que isso “atrapalha muito” ela fez uma ligação de como isso impede a concretização de sonhos. Nessa mesma perspectiva, as alunas da EI destacam as disparidades que existem na escola e no meio em que vivem, desigualdades sociais e muitas vezes falta de oportunidade ou até mesmo um adiamento de planos. No entanto, partindo de outra perspectiva, a juventude também é uma fase em que os jovens podem contribuir para a transformação social e cultura da sociedade. A socióloga brasileira Miriam Abramovay salienta que os jovens podem ser grandes agentes de transformação em diferentes esferas da vida social, como a política, a cultura e a educação, desde que tenham acesso a recursos e oportunidades que lhes permitam exercer sua cidadania (ABRAMOVAY, 2016). As estudantes da EC reforçam em suas falas o quanto são descredibilizadas por serem jovens, que os adultos não respeitam as opiniões, que muitas vezes é negado o direito de fala. Reforçando também essa ideia os jovens da EI. Assim, a sociologia tem um papel fundamental na compreensão da juventude, buscando perceber as mudanças individuais e sociais que ocorrem durante essa fase da vida e apontando caminhos para a construção de sociedades mais justas e sustentáveis e agentes sociais mais atuantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O fazer sociológico na escola e sobre a escola possibilita diversas reflexões. A sociabilidade dos atores envolvidos no cotidiano escolar é perpassada por nuances. Entendemos que a Sociologia não pode ser apenas mais um componente curricular, por isso decidimos fazer dela também espaço de reflexão. Percebemos os estudantes como jovens, ou seja, sujeitos e jamais um número da chamada ou do senso escolar. Eles são parceiros e co autores na construção dos saberes. O presente trabalho é um esforço inicial de perceber algumas das questões que perpassam o ser jovem e como os estudantes constroem essas concepções. Nossa pesquisa ainda em andamento permite perceber algumas das nuances e abre caminho de análise para aprofundar o entendimento da dinâmica dos vários atores sociais que compõem o cotidiano da escola. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, M. (Org.). Os jovens na era dos direitos. Secretaria Nacional de Juventude, 2016. DAYRELL, J. A escola "faz" as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educação & Sociedade, v. 32, n. 116, p. 1105-1122, 2011. MARTINS, J. de S. Exclusão social e a nova desigualdade. Contexto Internacional, v. 28, n. 1, p. 169-195, 2006. PATTO, M. H. S. Juventude e subjetividade. Revista Brasileira de Educação, n. 27, p. 5-22, 2014.