O presente trabalho tem por intenção compreender o papel da Sociologia escolar de Fernando de Azevedo na construção de um imaginário de um Brasil moderno. Para isso, devemos considerar as condições de intensas mudanças estruturais dos anos de 1920, 1930 e 1940 que possibilitaram a formação de um conjunto de valores modernos. Na política, ocorreu a constituição de partidos políticos, revoltas militares, declínio do poder da oligarquia agrária. Na economia, foi marcada pela crise na exportação dos produtos agrícolas, a intensificação da intervenção do Estado brasileiro no processo de industrialização e a urbanização. Já na sociedade civil a ampliação da classe operária, da burguesia industrial, profissionais técnicos e com ensino superior e burocratas que trabalham no Estado. Na cultura teve a consolidação do mercado editorial, a criação de universidades e de instituições promotoras de cultura Tendo em vista, o espírito da época marcado por transformações, nas quais resultou na necessidade de preparação dos cidadãos brasileiros aptos a ajudar na construção de um país moderno, esse processo de construção do novo homem brasileiro teria que incorporar as disposições alicerçadas nos fundamentos da modernidade, morais e cívicos da nacionalidade (VELLOSO, 1987). Fernando de Azevedo sendo um intelectual desse período, contribuiu significativamente com a produção cultural da época. Além disso, o autor viveu no período do Estado Novo comando por Getúlio Vargas (1882-1954), que tem em sua característica o poder máximo na organização social. O Estado passa a ser visto como o lócus da nacionalidade brasileira. Na qual teria a responsabilidade de construir o senso de nacionalismo nas gerações. No Estado Novo o intelectual responde à chamada do regime que o incumbe de uma missão: a de ser o representante da consciência nacional. Reedita-se , portanto , uma ideia já enraíza da historicamente no campo intelectual. O que varia é a delimitação do espaço de atuação deste grupo da torre de marfim para a arena política-, permanecendo o seu papel de vanguarda social. O trabalho do intelectual agora engajado nos domínios do Estado deve traduzir as mudanças ocorridas no plano político (VELLOSO, 1987, p.11). A atuação dos intelectuais foi fundamental na organização político-ideológico do regime, devido ao fato de contribuíram com a divulgação dos valores do regime. Nesse sentido, utilizando do prestígio social, os intelectuais visavam educar os brasileiros de acordo com as ideias do regime. Para atingir o objetivo do trabalho que tem a intenção de compreender o papel da Sociologia escolar de Fernando de Azevedo na construção de um imaginário de um Brasil moderno. Buscaremos analisar os manuais escolares produzidos na primeira metade do século XX, a saber: “Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo de Sociologia Geral”, de 1935 e “Sociologia Educacional: introdução ao estudo dos fenômenos educacionais e de suas relações com outros fenômenos sociais”, de 1940. Consideramos que materialização dos manuais é resultado das estruturas incorporadas pelos autores. Ou seja, através das relações que estabeleceu ao longo de sua trajetória de vida. Todavia, outros agentes sociais estão envolvidos na elaboração do manual. Assim, o manual é produto do conjunto de relações sociais realizadas por diversos agentes que orientam suas práticas (CIGALES, OLIVEIRA, 2020). Analisaremos os manuais didáticos a partir de seus contextos de produção e recepção, ou seja, os contextos onde nascem e são criados; e os contextos para os quais são endereçados, enviados, usados e consumidos. ITENS DA CAPA DO TRABALHO COMPLETO Caio dos Santos Tavares VIII ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Grupo de trabalho [História do Ensino de Sociologia no Brasil] O PAPEL DA SOCIOLOGIA ESCOLAR DE FERNANDO DE AZEVEDO NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL MODERNO Belém, Pará 2023 METODOLOGIA (OU MATERIAIS E MÉTODOS) Buscaremos realizar a análise nos seguintes manuais escrito por Fernando de Azevedo: “Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo de Sociologia Geral”, de 1935 e “Sociologia Educacional: introdução ao estudo dos fenômenos educacionais e de suas relações com outros fenômenos sociais”, de 1940. Consideramos os manuais didáticos como artefatos históricos, pois compreendê-lo possibilita entender o espírito de uma época (MUNAKATA, 2016), uma vez que, não devem ser entendidos como objetos neutros, mas como resultados de fenômenos sociais que se dá na escola e para além e antes dela (MAHAMUD-ANGULO, 2020), sendo reflexo de disputas políticas, ideológicas, científicas, religiosas e de concepções sociais. Ou seja, os manuais são produzidos inserido em um contexto que se configura em confluências e disputas sociais na política, religião, ciência, educação (CIGALES, OLIVEIRA, 2020). A confecção dos manuais é resultado das experiências profissionais, bem como do contexto político e econômico favorável a tais publicações. Assim, a análise considera duas “dimensões” interdependentes: a estrutura social; e os compêndios produzidos. A investigação pretende examinar as obras a partir da técnica de análise das categorias e de enunciação, que será realizada como concebida por Bardin (2011). Buscaremos realizar a “análise interna aquela voltada para “dentro” do manual e que foca, por exemplo, seus conteúdos teórico-conceituais e temáticos, recursos didáticos, orientações didático-pedagógicas, discursos, estrutura editorial etc” (BODART, PIRES, p.116, 2021) Nesse sentido, verificaremos de forma qualitativa: os temas presentes nas obras; e quais são, temáticas protagonistas, coadjuvantes ou ausentes visando compreender o sentido da modernidade na sociologia escolar de Fernando de Azevedo. DESENVOLVIMENTO/REFERENCIAL TEÓRICO A modernidade surgiu na Europa a partir do século XVIII, mas seus efeitos se espalharam por todo mundo. A modernidade é marcada por uma era que a sociedade ocidental passou de uma sociedade tradicional, com predomínio das explicações para os fenômenos sociais vista do prisma religioso passando para um predomínio da racionalidade. A ciência seria incumbida de elaborar as explicações utilizando métodos e técnicas para descobrir as verdades. Para Max Weber (2004) a racionalização invade todos os setores da atividade humana, dissolvendo assim o modo de vida tradicional. A racionalidade é o resultado da crescente intelectualização que acompanha a especialização científica e o desenvolvimento da técnica. O que se verifica é que a racionalização e a intelectualização provocam um desencantamento do mundo. Durkheim (1999) procurou explicar os efeitos das transformações sociais ocasionadas pela modernidade, o autor utiliza a divisão do trabalho social para entender esse processo de mudanças que poderia influência em alterações na constituição moral do homem moderno e na coesão do corpo social. Nesse sentido, Durkheim (1999) indica que cada indivíduo na era moderna se insere em uma sociedade diversificada e complexa, exercendo com isso uma determinada função dentro do organismo social. Como esse fenômeno é amplamente vivenciado na sociedade moderna gera consequência na estrutura social. A concepção durkheimiana inspirou a elite intelectual e política brasileira, a medida que os intelectuais franceses contribuíram para a intensa circulação das ideias de modernas. O próprio Fernando de Azevedo visou operacionalizar a sociologia de Durkheim “por meio da difusão dos conceitos e das investigações do sociólogo francês, legitimar a sociologia em nosso meio intelectual” (MEUCCI, 2001, p. 127). Nesse sentido, a sociologia escolar de Fernando de Azevedo foi influenciada pelo contexto histórico. Desse modo, “a Sociologia poderia colaborar para o projeto de construção da nacionalidade e para o desenvolvimento de uma nova mentalidade, e consequentemente, para o surgimento de novas práticas sociais no país” (NASCIMENTO, 2012, p. 276). As condições sociais das produções das obras sociológicas de Fernando de Azevedo são consequência da situação do período. Portanto, o saber sociológico estaria envolvido nas disputas políticas do momento, a medida que a sua construção é reverberação das disputas cientificas, religiosas e políticas que visam introjetar a sua cosmovisão as novas gerações. Com isso, a sociologia escolar de Fernando de Azevedo é resultado das expressões de tais tensões. Nesta conjuntura o conhecimento da Sociologia tem a função de contribuir com as respostas que pudessem oferecer orientação ao processo de modernização do país. Fernando de Azevedo “considerou a Sociologia como condição para o progresso da sociedade brasileira ao imputar-lhe um papel fundamental nos diagnósticos e nas soluções dos problemas nacionais (NASCIMENTO, 2012, p. 2). Desse modo, “as ciências sociais como norteamento científico e racional da ação, responsável por direcionar e definir não apenas a atuação dos cientistas sociais, mas também de educadores, professores, e do próprio Estado” (MORAES, 2016, p. 407). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nosso trabalho visou corrobora para a compreensão da história da Sociologia brasileira, e, em particular, da Sociologia escolar, uma vez que Fernando de Azevedo foi um importante agente no processo de institucionalização da disciplina na primeira metade do século XX (NASCIMENTO, 2012). Fernando de Azevedo considerava a Sociologia necessária para entender os as mazelas sociais brasileiras. O Brasil viva um período de mudanças, nesse contexto Azevedo, operacionalizou a concepção sociológica de Durkheim, a fim de contribuir com a formação do Brasil moderno. As suas obras são resultado das condições sociais de sua produção. Assim, o conteúdo da obra dialoga com projeto de modernização que Azevedo defendia tendo o conhecimento sociológico como ajudando na consolidação desse ideal.