As histórias contadas na contemporaneidade refletem, cada vez mais, os contrastes sociais experienciados por sujeitos que, por muito, não tiveram a possibilidade de contar suas narrativas. O premiado romance Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, conta a história de duas irmãs que vivem a síntese do sertão brasileiro e as relações de sua família com o latifúndio e o trabalho servil, permeadas pela seca e a violência, imbricadas pelo fantástico da religiosidade culturalmente mestiça à ancestralidade africana. Em Hibisco Roxo, da romancista africana Chimamanda Ngozi Adichie, a narrativa é vista e contada pela perspectiva intimista de uma jovem nigeriana, girando em torno de dois eixos principais: suas relações com a família e as consequências da colonização na Nigéria. Apesar de ambientados em continentes diferentes, salta aos olhos as idiossincrasias entre os sujeitos nas formas de se relacionar com a família, a terra, a cultura, o saudosismo à tradição e o diálogo com a ruptura. Para analisarmos essas inscrições, lançaremos luz sobre os estudos de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg sobre o lugar do negro e as importantes reivindicações em pertencer, ocupar e resistir. A intersubjetividade entre os sujeitos inscritos nas narrativas em estudo insere-os em um lócus de construir possibilidades de ser no presente, olhando para o passado e lançando-as para o futuro, transformando o texto literário em um espaço de diálogo entre gerações.