Durante o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994 e ainda antes dele, nos prelúdios do massacre, o estupro foi usado como arma de dominação e extermínio contra as mulheres de etnia tutsi, principalmente. Assim, o terror imposto no território foi grandemente complementado pelos atos de violência sexual maciça. Nessa perspectiva, essa temática é relatada nas obras de Scholastique Mukasonga, sobretudo nos livros Nossa senhora do Nilo (2017) e Baratas (2018). Objetiva-se, nesta pesquisa, analisar como esses atos de violação dos corpos femininos contribuíram como um forte agravante da situação destas no contexto genocidário. Esta pesquisa está inserida no paradigma das investigações de caráter qualitativo, cujo viés de análise utilizado é o analítico interpretativo. Em suas narrativas, constata-se que a autora destaca os traumas advindos dos atos de violação das tutsis por meio dos quais o corpo estuprado passou a ser visto como corpo público, pertencente a seres cuja dignidade foi maculada, em nome do desejo de poder. Dessa forma, além da destruição psicológica causada, ainda houve as consequências advindas após o estupro: abandono, extremo julgamento e condenação, gravidez e transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS. Para o desenvolvimento da pesquisa, fundamentamo-nos em autores como Walker (2011), De Paula (2014), Davis (2016), Diop (2021), dentre outros, que debatem sobre como o estupro é um ato recorrentemente usado pelo dominador contra as mulheres, o que demonstra a vulnerabilidade em que estas se encontram em contextos de destruição e humilhação, como ocorre com os processos bélicos.