O livro Marxismo e Filosofia da Linguagem (MFL) de V. N. Voloshinov, publicado na URSS em 1929 constitui uma importante referência teórica tanto para a compreensão das diferentes concepções de linguagem, como para indicar uma nova abordagem nesse campo, a partir dos pressupostos filosóficos do materialismo histórico. No projeto “A alfabetização na Pedagogia Histórico-Crítica: contribuições da Teoria da Enunciação de V. N. Voloshinov” tivemos como um dos objetivos apontar implicações desse referencial para os estudos e as práticas no campo da alfabetização. A pesquisa seguiu uma metodologia do tipo teórico-bibliográfico, com uma abordagem hipotético-dedutiva, que busca extrair dos textos do autor citado um quadro conceitual que possa dialogar com as questões inerentes ao processo de alfabetização. Dentre os resultados obtidos, é possível destacar que: a) é necessário compreender as ideias de Voloshinov a partir dos seus pressupostos marxistas, distinguindo-o da linha de pensamento que se convencionou chamar de Círculo de Bakhtin; b) a sua concepção de linguagem se apoia no conceito de “situação de enunciação” em que os interlocutores se relacionam a partir da sua posição em uma sociedade permeada pela luta de classes e não se reduzindo a mera interação discursiva entre sujeitos abstratos; c) para traduzir essas ideias para o campo da alfabetização é necessário integrá-las uma Teoria da Educação. Aquela que mais se aproxima dessa visão é a Pedagogia Histórico-Crítica, que partilha dos mesmos pressupostos do materialismo histórico; d) algumas contribuições específicas da teoria de Voloshinov envolvem a questão da natureza da palavra como signo, diferente das letras e fonemas isolados (sinais), indicando a necessidade de trabalhar o aprendizado do sistema de escrita de forma integrada com os processos de compreensão do significado e sentido das palavras e dos textos.