Tradicionalmente, na sociedade, as mulheres foram (e ainda são) consideradas por muitos como inferiores e, por esta razão, foram (e em muitos casos, continuam sendo) silenciadas e vítimas de preconceito. Em relação à mulher negra, a questão é mais grave. Como aponta Bonnici (2012), ela sofreu/sofre dupla colonização: pelo patriarcado, por ser mulher, e pelos (neo)colonizadores, por ser negra, de sorte que a sua representatividade, inclusive na literatura (brasileira) só se configurou tardiamente, e partindo de parâmetros indesejáveis. Na maioria dos casos, ela foi inserida no texto literário como uma personagem secundária, submissa, cumprindo papéis estereotipados: serviçal, empregada doméstica, entre outros. Além disso, destaca-se a questão da erotização da mulher negra nesse universo literário, principalmente nos séculos XIX e XX. Assim, com base em Bonnici (2007;2012), Reis (1992), Zolin (2010), Dalcastagnè (2008), entre outros, este trabalho visa analisar a representação da mulher negra, tendo como objeto de estudo o poema “Essa negra Fulô” (1947), de Jorge de Lima, uma vez que esta obra apresenta a figura em apreço como escrava, serviçal e erotizada. Nesse cenário, seguindo Cosson (2018), e Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), proporemos uma sequência didática para o terceiro ano do ensino médio, que trará uma reflexão acerca da representaçãp da personagem negra e sua erotização na literatura, partindo do poema citado, estabelecendo um paralelo com a erotização de tal figura em propagandas atuais, visando promover um elo entre a literatura e a realidade da vida prática dos alunos, a fim de torná-los leitores críticos.