Influenciados pelo modelo econômico neoliberal que prega a livre iniciativa individual, verifica-se uma tendência a que os indivíduos busquem melhorar tanto quanto possível as suas vidas, segundo a premissa de que somos os empreendedores de nossas próprias vidas e qualquer mudança ocorrerá a partir de escolhas e ações pessoais. É nesse quadro de defesa da livre iniciativa individual que realities shows de aconselhamentos pessoais se ofertam ao público. Dentre eles, iremos analisar o reality show Supernanny, no que diz respeito ao aconselhamento parental sobre a educação familiar dos gêneros. A resposta à pergunta: “Como criar bem os meus filhos?”, passa pela necessidade de seguir corretamente as estratégias fornecidas pela Nanny no dia a dia. A promessa de construção de uma família calma, integrada e harmônica dentro de cada lar, só poderá ser atingida pelo desenvolvimento de talentos e habilidades não presentes anteriormente à intervenção da Nanny. Na estruturação do programa, podemos identificar que o tipo de admoestação dada nas transgressões não são diferenciados de acordo com os sexos das crianças e a agenda diária é uniforme para o conjunto da família. Entretanto, percebe-se a dissimetria de gênero: pelo reforço aos brinquedos e brincadeiras diferenciadas; pela decoração dos quartos reforçando os símbolos de feminilidade e masculinidade conservadores; pelo vestuário das crianças seguindo os referenciais do que é próprio para cada sexo; pela atribuição de tarefas diferenciadas às mães e aos pais pela Nanny. O conjunto dessas orientações reforça os modelos mais tradicionais de educação dos gêneros. Analisando as sociedades na modernidade avançada, Giddens (1997) nos fala em destradicionalização, na qual as formas pré-existentes de fazer as coisas tornam-se menos seguras, pouco confiáveis. Em oposição a esse processo identificado por Giddens (1997), o RS supernanny enfatiza que as formas de fazer as coisas das gerações anteriores são mais seguras e eficazes, dentre elas a organização familiar (modelo monoparental) e a criação dos pequenos (educação diferenciada de acordo com o sexo biológico da criança).