A educação de jovens e adultos não é tema novo na educação brasileira. Há pelo menos 50 anos, já se fora pensada a alfabetização em torno de pessoas adultas. Todavia, essas experiências acabaram sendo abortadas pelas intensas disputas dos grupos políticos em torno do poder, privilegiando os interesses pessoais em detrimento das questões educacionais. Essa instabilidade fora recrudescida com uma ditadura militar que permaneceu no poder durante 21 anos. Com o regresso da ordem republicana e com a promulgação de uma nova Constituição Federal, a educação fora consolidada, retomando experiências anteriores e fomentando novas perspectivas e diretrizes em torno da educação de jovens e adultos. Nesse sentido, a lei 9.394/96 e os Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1997, trouxeram à luz novas propostas, perspectivas metodológicas para o ensino, ampliando a tarefa educacional a outras áreas escamoteadas e/ou às escondidas do eixo de ensino formal, tais como a inserção do ensino de História e cultura da África, a partir da lei 10.639/03, do ensino de História e cultura indígena, por meio da lei 11.645/08, e a retomada da alfabetização de jovens e adultos, conhecidos hoje como EJA. É justamente sobre esse último que iremos nos limitar nesse trabalho. À luz dessas propostas educacionais da década de 1990, queremos discutir o lugar da escola, bem como do currículo, na elaboração de propostas de aula para alfabetização de jovens e adultos, como também, tencionar essas políticas públicas para EJA, procurando perceber o elo entre o saber formal e o saber empírico da comunidade em torno da escola. Os trabalhos em torno dos estudantes da EJA denotam que esses sujeitos são, em sua grande maioria, trabalhadores informais e operários, mas que, por necessidade ou desejo, vão à escola com a esperança de um dia se tornar uma pessoa alfabetizada (PINTO, 1997). Diante disso, como pensar propostas didático-pedagógicas para as aulas da EJA? Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, que utilizará como instrumento a revisão de literatura em livros, documentos das políticas públicas nacionais e arquivos científicos disponíveis em repositórios virtuais. As análises dos dados serão desenvolvidas a partir do diálogo entre os dados coletados e as contribuições teóricas de Brandão (2001), Freire (1967) e Fernandes (2007). Nesse sentido, os resultados obtidos nessa pesquisa procurarão ampliar o debate, refletindo sobre as propostas de aula e de ensino para a alfabetização de jovens e adultos. Defendemos que o constante diálogo entre a escola e a comunidade poderá nos dar subsídios para a elaboração de um currículo no qual os agentes da EJA não estejam interessados em saber, por exemplo, que “Eva viu a uva” (FREIRE, 1967), mas, antes, em procurar refletir quanto Eva ganha para poder comprar uma uva.