O presente estudo tem como objetivo discutir sobre a linguagem presente na criança com diagnóstico de autismo partindo do pressuposto de que gesto e fala compõem uma única matriz cognitiva (McNeil, 1985, 1992, 2003; Morgenstern, 2010). Essa visão de linguagem multimodal contribui para a compreensão de que há, sim, língua a ser explorada no autista, o que desconstrói a ideia de linguagem no autista proposta por Kanner (1997), já que o gesto integra o sistema linguístico ao possuir o status de língua. Sendo assim, essas crianças desenvolvem linguagem de maneira funcional, ou seja, ela utiliza a língua e compreende os conceitos e o contexto em que esta inserida. Essa visão de língua é relevante para explicar a fala das crianças autistas que vem acompanhada dos gestos. Ela contradiz a maioria dos casos relatados na literatura geral que deixam de analisar a linguagem não-verbal desses sujeitos e passam a enquadrá-los nos diagnósticos gerais sobre essa síndrome. Portanto, propomos um novo olhar sobre as práticas interativas entre aluno-professor a fim de ser considerado o conjunto do discurso seja ele oral ou não, pois eles podem ter significado para essas crianças. A partir da visão defendida nesse artigo, acreditamos ser necessário fazer uma reanálise dos conceitos sobre aptidão comunicaiva de crianças autistas e inserir nas escolas métodos de ensino que facilitem a comunicação já existente. Em suma, concluímos apontando a necessidade de mudança nas práticas interativas entre a escola e a criança autista, já que ela é um sujeito que está imerso na linguagem.