A presente pesquisa busca desenvolver um estudo da composição diegésica do escritor uruguaio Eduardo Hughes Galeano, retiradas das obras Memórias del fuego (1984), Espejos: una história casi universal (2008), Boca del Tiempo (2008) e Los Hijos de los días (2012), sob o recorte temático das Ditaduras Civil-Militares da América Latina, da segunda metade do século XX. Destarte, objetivamos compreender como ocorre a transposição da escrita referencial, em escritura poética (BARTHES, 1977) a partir do uso da função poética da linguagem na composição de suas narrativas. De início, encontramos o intelectual Eduardo Galeano, cujo discurso concretiza essa posição, tomando para si a condição de porta-voz latino-americano (ROCHA, 2011). Nessa perspectiva, sob o holofote da intelectualidade, encontramos um escritor que cumpre com as exigências do método clássico da narrativa histórica. Entretanto, percebemos que, em virtude das atrocidades perpetradas, na América Latina, pelos regimes militares à comunidade civil, essa posição de intelectual é abandonada, e, Galeano, graças à relação profunda de alteridade, converte-se em um mediador cuja intencionalidade discursiva é proporcionar que os testemunhos negligenciados pela historiografia oficial possam ser inseridos no discurso da História. Para o desenvolvimento teórico-metodológico, a pesquisa traz a intersecção entre a Teoria da Literatura, a Teoria da História e os Estudos Fenomenológicos da Memória, que nos permitiram valorizar os aspectos literários e compreender quão importante é o trabalho de memória realizado por Galeano. Nesse conjunto, temos a relevância do testemunho traumático, não como pretexto para a configuração textual, mas como parte constitutiva de suas narrativas. É a memória traumática de agentes históricos que encontramos em suas obras.