Neste trabalho, realizaremos uma análise do espaço social que ocupam os indígenas e os mestiços na sociedade peruana do século XIX, através do romance Aves sin Nido, escrito por Clorinda Matto de Turner. O objetivo é analisar a personagem Margarita em contraste com as personagens indígenas e mestiças da cidade de Kíllac, indicar que elementos da trama e de construção das personagens resultou na diferente percepção do leitor sobre Margarita ao longo do romance. O romance peruano trata do cotidiano andino e dos conflitos que ali existem. Ao início da obra um casal criollo do centro cultural do Peru chega na serra andina para residir na cidade de Kíllac e lá passam a integrar e transformar a dinâmica social local; esse casal, os Marín, se compadecem da realidade vivida pelos indígenas da cidade e passam a defendê-los, chegando até a adotar duas moças como suas afilhadas. Sua relação com essas moças é fator essencial para a mudança de uma das protagonistas do romance, Margarita, que deixa de ser uma simples moça indígena da serra para entrar em processo de tornar-se senhora burguesa, embora não deixe de ser uma ave sin nido, como é apontado ao fim da obra. Enquanto aporte teórico, partiremos dos estudos de Silvina Carrizo sobre indigenismo e mestiçagem; de Antonio Candido sobre o estudo da personagem de romance; de Doris Sommer sobre a ficção de fundação; e dos estudos de Stuart Hall, Zilá Bernd, Eurídice Figueiredo e Jovita Noronha a respeito de identidade nacional e identidade cultural.