As pesquisas acerca dos gêneros discursivos não são recentes, entretanto despertam interesses em variadas áreas disciplinares. E no tocante ao ensino e a aprendizagem desses tipos relativamente estáveis, a temática suscita questionamentos pertinentes para a construção de um trabalho docente que fortaleça ou que ponha em evidencia a relação entre as práticas sociais e os gêneros discursivos. Assim, esta pesquisa contribui para o trabalho desenvolvido na sala de aula. Para tal, foram utilizados como pressupostos teóricos autores como BAKTHIN (2003) e MARCUSCHI (2008), referentes a discussão acerca de gêneros e tipos textuais; e ZOZZOLI (no prelo) no tocante ao trabalho e as reflexões sobre gêneros na aula de língua portuguesa. E a partir da observação da prática do professor de uma turma do ensino médio buscou-se focalizar a utilização, ou o possível não uso, na sala de aula de diferentes gêneros do discurso. Tratando-se de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, os dados foram coletados a partir das próprias produções escritas dos alunos, dos registros de aulas (gravações em áudio e notas de campo) e de entrevistas com o docente. Percebeu-se, inicialmente, que as práticas relacionadas aos textos apresentados em sala não possibilitarão uma articulação entre os gêneros inseridos no contexto das aulas e os gêneros que os alunos necessitarão para a lida com as práticas sociais. E nesse caso, esse contexto além de revelar uma fragmentação na qual o ensino da língua portuguesa encontra-se inserido no ensino básico; sugere certo distanciamento do saber vinculado na escola e a vida do aluno. Esse contexto acaba por enfraquecer a ligação entre os gêneros e a vida de que fala Bakhtin. Na análise dos dados, foram examinadas as categorias textuais T1, T2 e T3; observou-se que o docente demonstrou maior interesse na categoria T2 (textos/gêneros que neste caso se relacionaram ao ensino de literatura), mas na abordagem das atividades em sala constatou-se certa ênfase nos textos da categoria T3. E ainda que as atividades fundamentadas na escolha de um gênero que manteve ligações com as práticas sociais dos alunos, como verificado com a crônica, e a prática da leitura vocalizada desse gênero, realizada pelo professor, contribuíram decisivamente para uma recepção positiva da turma em relação ao ensino e aprendizagem dos gêneros. Assim, evidenciou-se a possibilidade de um trabalho em sala com os gêneros do discurso, no qual ocorra a articulação entre o gênero/texto, escolhido pelo professor com os temas e interesses presentes no cotidiano e na realidade dos próprios alunos; destacando-se que a formação do professor pode oferecer-lhe significativas contribuições para o aprofundamento de seus conhecimentos sobre os gêneros e de sua utilização no ensino da Língua Portuguesa.