O presente artigo busca refletir sobre a relação que existe entre as políticas educacionais de formação de professores e o pensamento político dominante, demonstrando que, discursos que se constroem em torno da formação docente, não podem ser compreendidos se não forem articulados a uma análise das disputas por distintos projetos de sociedade e como estas disputam se traduzem no campo educacional.Para alcançar este objetivo divide-se o artigo em duas partes. Na primeira parte, apresentam- se elementos de interpretação que sustentam a hipótese de que não é possível tratar o tema da formação de professores independentemente do regime econômico, da história, das relações de poderes, do papel do Estado, repudiando uma visão do mundo, que a partir de supostos básicos da epistemologia positivista das ciências sociais, interpreta a realidade social como uma coleção de “partes” e “fragmentos”, cada um dos quais, independente e compreensível em si mesmo. Resgatamos, em suma, o princípio da totalidade, não existindo descontinuidades nítidas, mas um conjunto dialético de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais, partes de um mesmo projeto político.Na segunda parte do texto, após um breve resgate histórico das políticas de formação de professores no Brasil, reflete-se sobre a relação que existe na atualidade entre o projeto político dominante e as políticas de formação de professores. É objetivo do artigo apresentar concretamente os elementos ideológicos que dão sustentação aos discursos que encontramos nos documentos sobre a formação de professores no Brasil após a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, e qual a sua vinculação com o projeto político neoliberal. Debatemos como as transformações ocasionadas pelo advento do neoliberalismo mudaram as estruturas de pensamento dos sujeitos, e a relação que as pessoas estabelecem com o conhecimento. Essas transformações reverberam em diversas esferas da vida humana, exigindo que a escola e o professor assumam novos papéis no processo educativo. Problematizamos as reformas educacionais que, tentando acompanhar as transformações sociais e sobretudo no mundo do trabalho, apresentam como tema central, o desenvolvimento de habilidades e competências na formação de professores. Ressaltando que, na formação de professores, e no espaço escolar, esses conceitos têm se traduzido através da individualização dos processos cognitivos, pois não é considerada a dimensão social no processo de produção do conhecimento. A competência é entendida como qualidade individual do sujeito, e não enquanto resultado de uma construção coletiva, social e histórica.