É notória a existência de teorizações sobre gênero e sexualidade que circulam em algumas instituições de Ensino Superior. Essas discussões têm chegado à escola, mas temos encontrado ainda resistências a essa abordagem. Nesta direção, é necessário colocar as teorizações em prática e um dos caminhos encontrados foi o de articular a produção de pesquisas no Ensino Superior a pesquisas na Educação Básica. Deste modo, apresentamos um recorte da pesquisa de doutorado iniciada no ano de 2010 e concluída em 2014 que se expressa na seguinte problemática: como transformar as teorizações e representações sobre gênero em modos de fazer pedagógicos no ambiente escolar? Do ponto de vista empírico, as respostas à questão norteadora deste texto e aos objetivos foram buscadas em grupos de estudos configurados como um círculo dialógico (FREIRE, 1987; JOVCHELOVITCH, 2008; ACCORSSI, 2011) realizados com 18 participantes que trabalhavam em uma escola municipal de Campo Mourão (PR). Outro procedimento metodológico utilizado foi a observação participante, ou seja, seis das participantes professoras foram observadas durante as suas aulas, nas relações com seus alunos e suas alunas. Para atender ao objetivo da pesquisa: apresentar as interfaces dos Estudos de Gênero no Ensino Superior e na Educação Básica, os dados obtidos foram analisados pelo viés da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2011). Como resultados, identificamos que no transcorrer dos círculos dialógicos, apesar da prevalência de representações sociais hegemônicas, as verbalizações das participantes ora sinalizavam representações ancoradas em uma visão binária e cristalizada de gênero, ora manifestavam dúvidas em relação ao seu posicionamento pessoal, seus valores e crenças, ora questionavam abertamente as representações sociais expressas pelas colegas e que reproduziam o esperado como padrão de comportamento de homens e mulheres. Em vista desses resultados, consideramos que não bastam somente teorizações em nível superior, faz-se necessária uma prática de formação continuada voltada para a subjetividade dos/as profissionais que atuam na instituição escolar. Fizemos desta proposta uma experiência e a tornamos um convite, a quem se interessa por estratégias de ação e reflexão sobre gênero para além de uma visão canônica ocidental.