Partimos do princípio de que utilizar o gênero discursivo tira em quadrinhos no ensino de língua, especificamente nas aulas de leitura, constitui uma prática de letramento social, bem como uma atividade crítica e social, uma vez que este gênero desperta a atenção do leitor e os seus recursos verbo-visuais, responsáveis pela construção dos sentidos, conduzem à leitura e à interpretação do mundo e das várias práticas discursivas existentes. Frente a esse cenário, levantamos a seguinte questão-problema: como uma abordagem do gênero tira em quadrinhos, em âmbito de planejamento, pode contribuir para o ensino-aprendizagem de leituras discursivas e de resistência no ensino médio? Acreditamos que o sujeito é imanentemente dialógico e, por isso, constitui-se em um ser responsivo aos mais variados fenômenos que ocorrem no âmbito social, e as práticas de letramento corroboram para a realização do ato responsivo. Assim, elaboramos uma proposta didática que comporte o gênero tira em quadrinhos em aulas de leituras do Ensino Médio, pois concebemos o fato linguístico como social, inserido numa dada esfera discursiva, de forma que a percepção dos diversos problemas sociais (preconceito racial, machismo e corrupção) materializados no gênero tira tornam-se veículo para a realização do letramento social dos alunos. Aderimos, desse modo, às contribuições dos estudos sobre Letramento (Rojo, 2009; Soares, 2010; Kleiman e Matêncio, 2005) e aos estudos do Círculo de Bakhtin (2013, 2016, 2017) por entendermos que a leitura de resistência quando trabalhada em sala de aula contribuirá para o desenvolvimento da responsividade do sujeito aluno, conduzindo-o a atitudes éticas diante de situações de preconceito e corrupção. Por se tratar de uma proposta didática, os resultados efetivam-se no âmbito de contribuirmos com uma formação de professores cada vez mais voltada para uma concepção dialógica e discursiva de ensino de língua portuguesa.