Novas possibilidades do campo historiográfico fizeram repensar a forma de escrever a história. Os historiadores começaram a sentir um interesse maior em investigar temas que antes não eram abordados como: o amor, o corpo, o desejo, as emoções e, também, a sexualidade. Em decorrência dessas novas tendências, os estudos sobre o corpo feminino ganham novas conotações nos mais diversos campos dos saberes acadêmicos de história. Torna-se, assim, possível conjecturar e recuperar, pela leitura documental, outros papéis, singularidades e lugares que tais mulheres ocupavam na sociedade. Analisar o cotidiano das mulheres pobres é algo complexo, mas não inviável. Para o estudo dessas mulheres comuns tem-se lançado mão de alguns artifícios. Por serem mulheres pobres e, em muitos casos, analfabetas acredita-se que elas tenham deixado poucos vestígios sobre suas experiências. Não existem registros feitos por elas próprias, mas, em meio a essa aridez os registros policiais e judiciais podem nos ajudar dando a voz que lhe foi silenciada ao longo dos tempos. Na leitura dos processos foi possível constatar que moças pobres analisadas, foram vítimas de crimes sexuais e procuraram a justiça para ajuda-las a conseguir casamento ou simplesmente punir aquele que foi o ofensor de sua honra. Entende-se que os processos criminais como fontes históricas são ricos em possibilidades de interpretações e análises para entendermos através dos muitos discursos proferidos as normas de condutas e padrões de sociedade proposto, além de nos possibilitar a aproximação com o cotidiano dessas classes populares envolvidas que deixaram tão poucos registros sobre suas experiências.