Em Paulina Chiziane, primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, as personagens femininas são construídas de forma que suas condições sociais sejam retratadas conforme as situações de uma sociedade marcada pela opressão e por aspectos culturais que impõem os modos que as mulheres devem seguir. O silenciamento feminino é uma das marcas mais fortes na produção narrativa da autora, fazendo-nos refletir acerca do lugar da mulher moçambicana em seu país de origem. Este trabalho destaca como essa marca social (muitas vezes imposta) apresenta-se no romance O Alegre Canto da Perdiz, publicado em 2008, destacando as quatro personagens femininas principais: Serafina, Delfina, Maria das Dores e Maria Jacinta. Elas, diante de situações de silenciamento completamente diferentes, retornam, de certa forma, ao posto que marca suas condições de opressão, apresentando aspectos que rompem com essa tradição cultural do país, representando um comportamento diferente daquele esperado por uma sociedade marcada pelo patriarcado. Sendo assim, embasa-se esse estudo nas teorias pós-coloniais, que nos ajudam a compreender o porquê dessas personagens dialogarem tão fortemente com a situação de subalternidade presente no romance de Paulina Chiziane, assim como a categoria do Outro, formulada por Francisco Noa, que nos fornece as perspectivas que levam essas personagens ao silenciamento e, ao longo do romance, a meios de ruptura, quebrando-se, dessa forma, com as ‘’regras’’ socialmente impostas ao comportamento (esperado) feminino. Veremos, também, como a cultura de assimilação rege esses comportamentos, já que a personagem Delfina abre mão das tradições em nome de um sistema colonialista e opressor.