O presente artigo, tem por objetivo principal analisar a construção da representação identitária do personagem João W. Nery, presente no livro viagem solitária: memórias de um transexual trinta anos depois, sendo o mesmo, o primeiro transexual masculino a realizar os procedimentos para a mudança de sexo (feminino para o masculino). No presente livro, temos um personagem que sofre por não se adequar ao seu sexo biológico: sexo feminino, identificando-se assim com o sexo masculino, sendo este o principal desafio do personagem em questão. De acordo com Áran (2009), a transexualidade é conhecida como Transtorno da Identidade de Gênero (TIG), podendo ser compreendida como o sentimento de infelicidade ou depressão quanto ao próprio, sendo esta a condição apresentada pela personagem a ser analisada. Butler (2016), por sua vez, destaca que o gênero não deve ser simplesmente concebido como a inscrição cultural de significado em um sexo previamente dado, o mesmo precisa designar também o aparato de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos, sendo assim a questão da construção de um determinado gênero precisa sempre ser problematizada, não sendo percebida com algo naturalizado, e, sim construído na, pelas relações de poder. Desta forma, analisaremos o discurso do personagem João W. Nery a fim de percebermos como este personagem construiu a sua representação identitária pautada na masculinidade.