Este trabalho tem como objetivo refletir a construção discursiva do homossexual, partindo da produção de Michel Foucault, especificamente, nas obras Os Anormais (1975) e História da Sexualidade I (1976), bem como, analisar o papel da psicologia na formação desses discursos. Os conhecimentos psicológico, jurídico e psiquiátrico foram atravessados por rupturas em seu cenário epistemológico, do modelo clássico de pensamento, representativo e idealizado, para analisar o sujeito pela sua concretude e natureza. Desse modo, Foucault sinaliza as nuances desse saber e denota a existência de relações de um poder, biopolítico e microfísico. O arcabouço desses saberes permitiu a passagem da concepção canônica de sodomia para uma natureza do homossexual, não se tratando mais de uma falta religiosa, transgressão moral ou um ato jurídico passível de punição, mas de uma condição singular, uma espécie. A homossexualidade foi elaborada e disseminada pelo saber médico a partir de uma concepção imaginária de anormalidade que permeia o corpo social, caracterizando-se como uma patologia médica, uma disfunção passível de tratamento. Com isso, sinaliza-se uma correlação entre esses campos de saber, que se fundamentam e formam uma unidade em torno de uma produção de dispositivos de controle social e coerção dos sujeitos. Nesse sentido, a construção desse saber relaciona-se com as formas contemporâneas de pensar, as quais buscam respaldo por meio do discurso científico, aceito por grande parte da sociedade. Destarte, os estudos foucaultianos trazem à tona um questionamento da psicologia já esquecido por longo tempo e possui consequências atuais: para quê e quem serve esse saber?