Frente a um panorama brasileiro contemporâneo que ainda reverbera o eco das vozes cerceadas por valores patriarcais e machistas, eixos basilares da grande parte das sociedades, nota-se que modos de ser e viver são ditados por uma tradição opressora, de maneira a delinear-se os perfis sociais dos indivíduos enquanto sujeitos sociais. Assim, desde a mais tenra idade, a criança é induzida a se portar conforme os parâmetros imbuídos pela sociedade, compreendendo a família, a mídia, os amigos, enquanto aparelhos dispersadores de ideologias e reprodutores de discursos que emanam, muitas vezes, rotulações, preconceitos, tabus. No que concerne à figura do masculino, delineia-se uma representação de um sujeito viril, forte, racional, galanteador, que se imponha ao feminino enquanto um par dicotômico frente às suas caracterizações; porém, quando o homem não se vê representado mediante tais delineamentos, pode-se afirmar que há certa crise identitária, que se dá no conflito vivenciado entre aquilo que se quer ser e aquilo que se é forjado a ser. Desta maneira, o conto “E se fosse?”, da escritora paraibana Maria Valéria Rezende, problematiza a representação do ser homem frente ao não-enquadramento do personagem protagonista nos moldes construídos culturalmente para ele, tendo como desfecho da narrativa um elemento que põe em voga uma (sub)versão de sua masculinidade. Para subsidiar as discussões, recorrer-se-á às proposições de Butler (2016), no que tange à perspectiva performática do gênero, bem como a Donovan (2015), Cruz e Zica (2011), Nolasco (1993), dentre outros, afim de proporcionar uma abrangência acerca da temática em questão.