Desde o ano de 2003 trabalhando na educação infantil no município de Campinas, pude vivenciar diferentes experiências em relação à inclusão de crianças com deficiência em salas regulares e constatar quão importante é a manutenção da criança com autismo em contato com o mundo real, distante da segregação, investindo na busca de interesses e desenvolvimento das habilidades da criança, tal como propomo-nos a fazer com quaisquer outras. De maneira geral, pude perceber que a criança chega à escola de educação infantil em meio a busca de um diagnóstico e ansiedade por parte da família com a qual acabamos por trabalhar ao longo da permanência do aluno na unidade. A criança com autismo demanda considerável atenção e trabalho por parte da família e professor, isto é um fator que não pode ser mudado e com o qual precisamos lidar, desta forma é preciso enfatizar que a pessoa é única e traz consigo uma história a ser narrada. A criança com autismo aqui referida como GSM, ingressante na unidade escolar em 2015, com três anos e oito meses, matriculado e frequente no agrupamento III em sala regular composta por 31 crianças com idades entre quatro e seis anos.GSM demonstrava desinteresse e impaciência para com as pessoas, chorava intensamente e não conseguia comunicar-se, assim como não verbalizava ou atendia suas necessidades básicas de saciedade. A fala não era desenvolvida de forma a ser compreendida e isto gerava frustração, agressividade e impaciência nas relações com as demais crianças, o que veio a melhorar após acompanhamento fonoaudiológico e psicológico. No primeiro ano superamos a barreira do descontrole dos esfíncteres e ingressamos no oferecimento de maiores desafios frente a independência do adulto, as relações com seus pares e o desenvolvimento da linguagem oral. Isto possibilitou traçar de estratégias para que vínculos fossem criados e as relações fortalecidas. Percebendo potencialidades e interesses, a leitura e brincadeiras com materiais não estruturados, fora do espaço da sala de aula, figuraram ao longo dos anos. Uma das singularidades percebidas foi a hiperlexia, fez-se reconduzir o trabalho pedagógico de forma a explorar esta potencialidade sem desligar-se do necessário desenvolvimento da linguagem oral e da interação social. Após dois anos e meio estamos trabalhando com uma criança leitora e escritora, que brinca com seus pares, demonstra afeto, cria vínculos, expressa suas necessidades, lidera brincadeiras, traz à tona jogos simbólicos e faz-de-conta, em suma, temos uma criança com desenvolvimento considerável a despeito de qualquer prognóstico clínico. Desta forma, surgiu a ideia de pesquisar o desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas aos alunos com autismo na educação infantil e trazer o relato de experiência, o encaminhamento deste processo de aprendizagem conjunta professor e aluno, para que familiares e professores compreendam que o autismo é parte da subjetividade de uma pessoa, mas que não a define por si só.