Eurípides é um grande criador de caracteres humanos e realismo do teatro da antiguidade. Toda a sua obra é um espelho do topos do homem grego clássico, que é marcado como aquele tomado pelo excesso, pelas paixões (páthos), pelos conflitos externos e pelas perturbações internas, tal como o amor e o ódio, o desejo e a ira, a inveja e a alegria, o apetite e a rivalidade. Das obras euripidianas, Medeia é uma das mais belas e complexas, senão a maior dentre todas as peças teatrais subsistentes nas auroras atuais. Representada em 431 a.C, lemos nesta obra um páthos extremado em relação à personagem de nome homônimo a peça, que a leva ao cometimento de miríades de desmedidas, sobretudo quando em jogo está a sua honra (timē) e o convívio (não) harmonioso de seus pares. Em vista disso, este trabalho propõe expor brevemente o modo com o qual Eurípides procurava no mito e nas paixões de Medeia educar o homem grego pelo emocional, purgando os sentimentos destes por meio do método educativo mais eficiente de todos: a poesia (espetáculo trágico). Para tanto, usaremos como premissa teórica a obra Retórica de Aristóteles, que expõe acerca das emoções e suas vicissitudes. E, finalmente, o aparato teórico moderno é baseado em David Konstan (2006), cujo trabalho apresenta as emoções sob o viés aristotélico.