O trabalho apresenta resultados de uma investigação cujo escopo foi analisar o processo de
implantação de ambientes digitais nas escolas das aldeias Arara-Karo e Gavião-Ikolen – localizadas na Terra
Igarapé Lourdes (Ji-Paraná/Rondônia) – como parte de um processo de inclusão digital das comunidades
indígenas. A pesquisa realizada em 2010 utilizou-se da metodologia fundamentada numa abordagem
qualitativa na perspectiva da pesquisa-ação que possibilitou o envolvimento entre os sujeitos da pesquisa de
modo cooperativo ou participativo. Os referenciais teóricos que nutriram a investigação pautaram-se no
entendimento de que a interculturalidade pressupõe a convivência e coexistência de culturas e identidades
diferenciadas. Nesse sentido entende-se que para o indígena se inserir na modernidade não significa que deva
abdicar de sua origem, modos de vida e tradições; significa, sim, interagir com outras culturas de forma
consciente e, a partir de sua referência identitária, rejeitar a homogeneização condicionada por um mundo
globalizado. Buscar esta identidade, entretanto, não quer dizer construir uma identidade indígena genérica,
mas, identidades étnicas específicas, presentes na diversidade cultural dos diferentes grupos étnicos
abrigados sob a denominação mais ampla de povos indígenas do Brasil. Nesse contexto, o indígena tem
clareza de que precisa ter acesso às tecnologias e informações do mundo globalizado para se fortalecer e
lutar por seus interesses e sobrevivência. O reconhecimento de que a tecnologia tanto serve para a
emancipação como para a dominação engendrou a importância de eleger como discussão conceitual a
questão da humanização pela tecnologia, com desdobramentos em termos de emancipação. O estudo foi
realizado com onze professores indígenas por meio de duas atividades articuladas: 1) atividades de formação
continuada no processo de implantação de telecentros nas escolas das aldeias em decorrência da política
nacional de inclusão digital; 2) observação e registro dos modos de apropriação das TICs pelos indígenas. A
investigação se nutriu dos referenciais teóricos alinhados à análise da inclusão digital como importante
processo de inclusão social numa perspectiva de emancipação humana. Os resultados demonstraram que
aquelas comunidades indígenas reconhecem a importância da inclusão digital para superação dos processos
de exclusão social. Por meio de posturas que evidenciaram, autonomia, coletividade e cooperação os sujeitos
se apropriaram das mídias digitais para produção de conteúdo voltado para preservação de sua cultura e
construção de uma rede de integração entre os povos indígenas para o exercício da cidadania e luta pelos
direitos sociais.