O decreto n. 32.188/17 foi instituído pelo governo cearense com intuito de efetivar um plano estadual de enfrentamento à discriminação lgbtfóbica. Este plano é constituído por metas e diretrizes que contemplam em seis áreas temáticas, políticas públicas e promoção dos direitos da população LGBT no biênio 2017-2018. A secretaria de educação cearense – através de sua célula da diversidade e inclusão educacional e da equipe de educação, gênero e sexualidade, ambas vinculadas à Codea [Coordenadoria de Desenvolvimento da Escola e da Aprendizagem] – vem desenvolvendo intervenções nas escolas estaduais em nível de formação docente e discente para atender as metas deste decreto relacionadas à esfera educacional. Este artigo objetiva identificar estas ações e, principalmente, questionar os discursos percebidos durante estas atividades formativas nas escolas estaduais cearenses que, possivelmente, sustentam a discriminação lgbtfóbica. Para tanto, foram acionadas como técnicas de pesquisa a análise documental, a observação direta das atividades realizadas pela equipe de gênero da secretaria e a análise dos discursos proferidos durante esses momentos de formação. Homo-lesbo-transfobia, heterossexualidade compulsória, pedagogias da sexualidade, gênero, sexualidade e direitos humanos constituem as categorias de análise utilizadas para balizar as reflexões engendradas durante a investigação social. Judith Butler (2003), Berenice Bento (2011), Rogério Diniz Junqueira (2012; 2015), Leandro Colling (2011) e Guacira Lopes Louro (1999) formaram os principais interlocutores teóricos para interpretar os fenômenos sociais abordados. As construções discursivas – explicitadas por estudantes e profissionais da educação cearense – que advogam legitimidade à heteronormatividade e percebem os corpos dissidentes de gênero e sexuais como não-humanos constituem os principais achados desta pesquisa qualitativa em andamento.