A implementação da Lei Federal 10.639/2003, que alterou a Lei 9.394/1996, nos seus artigos 26 e 79,
e, com isso, estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas tem sido pauta de inúmeras discussões. Sua promulgação foi o resultado de reivindicações históricas, por parte do movimento social negro organizado dentro e fora dos espaços acadêmicos, e a existência de um momento estratégico de acolhimento e articulação com o Governo Federal. Tendo essa dupla característica em mente, o presente artigo tem por objetivo analisar a atuação profissional e intelectual de três professoras negras, que estão inseridas e atuam enquanto docentes em uma escola de Educação Básica no extremo sul do Rio Grande do Sul. Propomos, com esse trabalho, uma reflexão, com as perspectivas feminista negra e decolonial, sobre a intelectualidade subjacente às iniciativas promovidas por essas docentes na aplicação da Lei Federal de nº 10.639/2003. Para tanto, valemo-nos de suas narrativas (auto)biográficas que foram registradas por meio de entrevistas em ateliês biográficos (coletivos) e encontros individuais, enfatizando os aspectos interseccionais que atravessam suas corporalidades. Assim, observamos como as participações mantidas pelas professoras na escola assumem configurações diversas buscando interditar seus conhecimentos enquanto intelectuais negras e suas diferentes formas de compreender e atuar sobre os espaços e as práticas curriculares e o conhecimento produzido com e na escola. A partir dos dados construídos com as narrativas, refletimos sobre as possibilidades de decolonizar os currículos escolares, considerando para onde esse viés quer conduzir o saber.