Resumo: No decorrer da história da humanidade, ao gênero feminino foi atribuído o papel de
procriar, cuidar do lar e contribuir para a estabilidade financeira da família por meio da dupla
jornada. A figura feminina existe, desse modo, submissa ao gênero masculino que, por sua vez, é
enaltecido pela sociedade machista e misógina. A partir de diversos movimentos sociais, a exemplo
das lutas libertárias da década de 60, a mulher passa a reivindicar os espaços sociais, constituindose
na valoração oriunda do processo de alteridade. Ainda no transcurso da história, a violência
física, sexual e psicológica é uma constante no universo feminino, prova disso foi o episódio de
repercussão mundial, acontecido no Canadá, no qual um policial justificou que as mulheres são
estupradas devido às vestimentas que optam por usar. Em resposta ao acontecimento, surgiu o
Movimento da Marcha das vadias, em 2011, na qual jovens militantes do movimento feminista se
manifestam politicamente, por meio de cartazes, questionando o machismo, visando o engajamento
político para visibilizar as lutas contra a ordem patriarcal; lutando contra as múltiplas formas de
violência sofridas pela mulher. Debruçamo-nos sobre os cartazes – vistos como enunciados
concretos – produzidos durante as várias Marchas ocorridas no país, no decorrer de 2017, para
analisarmos como a alteridade constitui-se em valoração na luta contra a repressão patriarcal. Para
tanto, buscamos apoio na Análise Dialógica do Discurso, representada pelos pensamentos do
Círculo de Bakhtin (2010, 2011, 2013), bem como nas contribuições sobre alteridade, valoração e
enunciado concreto (SOBRAL, 2009; FIORIN, 2016; BRAIT, 2010). Acerca do resultado da
análise, constatamos a evidência do tom valorativo como instrumento de fortalecimento das
relações de alteridade que visam à resistência ao preconceito histórico e socialmente cristalizado na
sociedade.