Buscaremos neste artigo abordar o processo de construção do primeiro cemitério de Fortaleza, o São Casimiro, mais conhecido como o Croatá. No século XIX, a sociedade médica enxergava o corpo morto como um perigo aos vivos devido aos vapores miasmáticos por eles produzidos, para impedir a continuação da possível contaminação, defendiam medidas proibitivas baseadas nos ideais de salubridade ao costume funerário. A medida principal é construir cemitérios fora das cidades respeitando as determinações recomendadas pelos médicos para evitar a poluição do ar. As recomendações orientavam que os cemitérios deveriam ser edificados aos arredores das cidades de forma a evitar que os ventos levem os vapores dos corpos para o espaço urbano. Deviam ser respeitadas também a altitude do terreno escolhido e o tipo de solo, deveriam ser plantadas árvores e que fossem obedecidas o tempo de abertura das sepulturas. Nesse sentido, o trabalho tem por objetivo analisar como o discurso de higiene serviu como elemento impulsionador para a transferência dos sepultamentos das igrejas para o cemitério público. Como procedimento metodológico foi analisado o discurso presente no jornal O Cearense e nos relatórios dos Presidentes de Província do Ceará. A transferência dos sepultamentos da igreja para o cemitério representou uma mudança na forma de se relacionar com a morte e o morrer. O medo do contágio transformou a relação com o morto agora visto com repugnância, a morte passou a significar a lembrança de sua própria morte. Os funerários deixaram de ser eventos sociais e passaram a se tornar um momento cada vez mais recluso e familiar.