Autores da educação que abordam a formação do professor, como é o caso de Huberman (1995), defendem que os anos de carreira podem ser representados em ciclos, mas não é difícil encontrarmos profissionais, ainda nos primeiros anos de ensino, vivenciando diferentes fases que deveriam ser retratadas com mais de duas décadas. É pensando nesse contexto que inserirmos nosso estudo, com o objetivo de analisar depoimentos de uma professora de Língua Portuguesa, em formação inicial, relatando sua experiência vivida no primeiro ano de atuação, numa turma de educação básica, numa escola pública, no cariri paraibano. Ancorados na Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) e, mais especificamente, nas contribuições das Ciências do Trabalho (CLOT, 2010), selecionamos como categorias de análise os objetos constitutivos da atividade docente (AMIGUES, 2004), revelados em um relato de experiência, escrito por esta colaboradora, após um ano ministrando aulas e prestes a concluir a graduação. Os dados revelam uma indiferença dos alunos perante o conteúdo e as aulas ministradas, fazendo com que esta profissional perceba que a fase da sobrevivência é mais difícil do que ela imaginava, já que se sente desautorizada, desacreditada e ignorada. Em relação ao objetos constitutivos, percebemos: uma defensora das regras de ofício (como fazer registro no diário) para tentar impor-se em sala de aula; a não utilização da megaferramenta do livro didático, dinamizando as aulas sempre eu possível; uma relação conflituosa estabelecida com o coletivo de alunos da turma; e uma não preocupação com as prescrições institucionais para cumprir prazos e conteúdos.