Os corpos amolecidos, com manchas vermelhas e febris dos doentes de meningite lotavam hospitais e ambulâncias da capital paulista. Tais corpos foram congelados pelas câmeras dos fotógrafos da imprensa paulista e emergiram nas folhas dos jornais como uma intensa evidência do sofrimento e precariedade aos quais estavam expostos os doentes que necessitavam de tratamento médico no Brasil dos anos setenta. Como tais fotografias foram capazes de comunicar a dor do doente em um momento em que a censura tolhia o uso da palavra? O que provocaram tais imagens? O que ainda hoje tem a dizer? Neste texto discutimos o lugar que algumas imagens fotográficas tiveram na produção da visibilidade do surto de meningite, no estado de São Paulo, em 1974 e problematizamos como tal visibilidade ocupou lugar fundamental nas tensões entre a imprensa, a produção da imagem propagandística do Estado e a saúde que provocaram uma mutação dos posicionamentos do Governo Geisel em relação a saúde e a transformação desta em mais uma das bandeiras propagandísticas do Regime Militar, através da criação do Sistema Nacional de Saúde, em plena Ditadura Militar. Discutimos junto com Georges Didi-Huberman como a imagem é uma presença do passado que tem uma capacidade singular de tocar as vidas do passado, que ela registra e as vidas do presente que ardem no encontro com ela, especialmente, quando estas registram momentos de emoção e sofrimento. Por fim, problematizamos a possibilidade da escrita da história a respeito da saúde durante o regime Militar e o lugar que a imagem tem neste imbróglio.