LEMOS, Saulo De Araujo. Um ensino antropofágico, com literatura. Anais III CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/22336>. Acesso em: 22/12/2024 19:04
Diante de todos os problemas envolvidos, não é difícil admitir a falência generalizada do modelo de escola predominante no Brasil, que se demonstra, por exemplo, em sua ineficácia para a difusão da leitura no país. A tática pela qual um professor deveria monopolizar a atenção de vários alunos tanto é ineficiente como não passa de uma estratégia relativamente barata de confinamento de crianças e adolescentes. Em alternativa a esse quadro, é necessário reafirmar o conhecimento como experimentação crítica e afetiva. De que modos o ensino da literatura poderia contribuir com essa perspectiva, se frequentemente ela ainda mantém elitismos e defasagens de linguagem e pensamento? A obra inquieta e genial do autor modernista de 1922, Oswald de Andrade, talvez ofereça uma resposta: sua radicalidade poderia ser conectada a uma prática de aproximação à literatura por estratégias diversas da leitura silenciosa e da explicação reducionista, como a compreensão biográfica, a discussão de comportamento e a vivência performática do poema, que poderiam amenizar a barreira da inexperiência do adolescente, além de dar um status de validação desierarquizadora à diferença de interpretações entre alunos e professores. A proposta antropofágica de arte do autor paulista, estímulo à devoração cultural crítica e redimensionadora pelo humano de tudo que lhe toca, estaria assim aliada ao manifesto por um ensino que não tentaria tolher o aluno jovem em suas características, mas tornaria suas inquietações a própria essência de um outro ensino-aprendizagem.